Thursday, March 8, 2007

Exumações políticas

À imagem do que faziam os ladrões de sepulturas do século XIX, que em larga medida inspiraram as histórias de terror gótico de Edgar Allan Poe ou Washington Irving, tem-se assistido, nos últimos tempos, a uma vaga de exumações políticas. Se nuns casos os cadáveres estão sepultados numa shallow grave, noutros, o cheiro a podre que os ditos exalam não deixavam margens para dúvida quanto ao seu estatuto de defunto.

Numa das pontas, o Paulinho das Feiras. A exumação do salvador do PP, que tirará o partido da direcção de um bem intencionado (mas pouco hábil líder) consumar-se-á a breve trecho. Do caixão a que foi votado, sairá um político a cheirar a água-de-colónia, com um novo bronzeado, um novo sorriso, hálito a Pepsodent e algumas boas ideias para se começar finalmente a fazer oposição em Portugal. Falta saber como ultrapassar o dilema das eleições (directas ou através de Congresso). Como em todas as exumações, é necessário seguir os trâmites legais...

Na outra ponta, o Menino Guerreiro. Enterrado pela sua desmedida ambição, pela sua imensurável mania da perseguição e pelo seu pouco sentido de Estado, o cadáver putrefacto de Santana Lopes teima em querer vaguear pelos corredores do poder. Não sabemos quem foram os coveiros que tiveram a triste ideia de o desenterrar, mas já deviam saber que alguns corpos estão em tão mau estado que nem para as aulas de anatomia da Faculdade de Medicina servem.

Se no primeiro caso, há quem veja um milagre, pelo cold shower effect que terá na cena política portuguesa, no segundo, a coisa pode ser vista como uma maldição. É que há mortos que teimam em não querer morrer...