
Consigo, é cada tiro, cada melro. Quanto mais escreve, mais se enterra. Vamos então refutar as suas mais recentes atoardas:
1. O campo dos conceitos: eu não levei o diálogo para o campo dos conceitos. Qualquer diálogo (pelo menos após o paleolítico) lança mão de conceitos. Aliás, é impossível haver diálogo sem conceitos. O Sr., quando está a meio de uma intervenção cirúrgica, não se vira para a enfermeira e diz: "passe-me aí essa rebarbadeira" (quanto o que queria mesmo era um bisturi). Os conceitos definem coisas. Não pode confundir banana com carro ou caneta com cão. E muito menos democracia com liberdade.
2. Democracia e Liberdade: de forma teimosa, casmurra e totalmente desinformada, volta a opinar da seguinte forma: "acho que [a democracia] é precisamente a liberdade de escolher quem nos governa". Se o seu candidato perder, o Sr. é livre?
Ou não percebeu nada, ou não quer perceber o que eu tenho andado para aqui a escrever. Mas já que considera a minha opinião falaciosa, talvez seja melhor esclarecido por uma passagem do livro "Liberalism and Democracy" de Norberto Bobbio (um dos maiores filósofos políticos do séc. XX):
"...the relationship between the two (liberalism and democracy) is very complex and by no means one of continuity or identity. In the commonest usage of the two terms, "liberalism" denotes a particular conception of the state, in which the state is conceived as having limited powers and functions, and thus as differing from both the absolute state and from what is nowadays called the social state; democracy denotes one of many possible modes of government, namely that in which power is not vested in a single individual or in the hands of a few, but lies with everybody, or rather with the majority. Democracy is thus differentiated from autocratic forms such as monarchy and oligarchy. A liberal state is not necessarily democratic: indeed, there are historical instances of liberal states in societies where participation in government was highly restricted, and limited to the wealthy classes. A democratic government does not necessarily issue in a liberal state: indeed, the classical liberal state now finds itself in crisis as a result of progressive democratization that has followed on the gradual extension of the franchise to the point where it has become universal."
Estamos esclarecidos? Muito bem. Continuemos.
3. Monarquias: não há monarquias com uma componente democrática. Não existe o conceito de "monarquia democrática": há uma contradição nos próprios termos. Existem é monarquias constitucionais (fruto da cultura liberal - e não democrática - do séc. XIX). A participação política do demos na organização política de um Estado anda por aí desde o tempo dos Afonsinhos. Mas daí a chamar a uma monarquia democracia... Citando uma vez mais Bobbio: "Democracy is thus differentiated from autocratic forms such as monarchy of oligarchy".
4. As suas preferências: os conceitos são objectivos. Sinceramente, estou-me nas tintas para as suas preferências. Os argumentos "não interessa, é o meu ponto de vista" ou "não interessa, são as minhas preferências" para além de colocarem a descoberto o seu parco conhecimento dos assuntos em discussão, deixam muito a desejar quando confrontados com a objectividade que o debate exige. Não estamos aqui a discutir futebol no tasco meu caro EO. Muito menos a fazer malabarismos com as palavras. Não é porque o Sr. acha bem que, de um momento para o outro vamos começar a meter a democracia e a liberdade no mesmo saco.
Com os melhores cumprimentos,
MP