
A cultura democrática e liberal dos ingleses amadureceu ao longo de vários séculos. Fundada em actos políticos de relevo como a Magna Charta de 1215, a Bill of Rights da Glorious Revolution de 1688 ou nos escritos de Burke, Locke, Stuart Mill ou Bentham, atravessou eras, resistiu aos ímpetos revolucionários extremistas do Continente e tornou-se o símbolo da harmonia societária. Para os súbditos de sua majestade, pouco interessa que o governo esteja na mão de vários ou de todos os membros da Comunidade política. Rousseau e a sua volonté générale tiveram pouca adesão para lá do Canal da Mancha.
Para a velha Albion mais importante que o governo de todos, é o governo limitado.
E a prova de que o sistema funciona é que, quando a maioria Trabalhista aprovou, em 2003, na Câmara dos Comuns, algumas leis anti-terrorismo que atentavam contra as liberdades básicas dos indivíduos, foi precisamente o refúgio da aristocracia, o órgão menos democrático de Inglaterra, o feudo dos Lordes, que "chumbou" a iniciativa. Esta atitude denota, por um lado, um apego à cultura humanista dos valores e por outro, uma verdadeira predisposição conservadora, respeitadora do conjunto de tradições que compõem a herança política britânica.
No campo oposto a esta mostra de espírito liberal, temos aquele que é o maior um dos maiores Parlamentos do Mundo. A China é um Estado Constitucional (apenas formalmente) e os deputados à Assembleia Nacional Popular (ANP) são eleitos para mandatos de cinco anos, contrariamente aos vis bretões! Contudo, atrás de uma pretensa liberdade de participação política, alguns esquecem-se que os deputados apenas podem ser eleitos entre os membros do Partido Comunista Chinês e que os poderes decisórios daquele órgão são diminutos, ou cerceados pelo poder executivo.
Este é o exemplo perfeito do que acontece quando a política se torna um contraditório jogo de palavras ensarilhadas em inúmeros documentos constitucionais emanados de grandes assembleias pouco democráticas. De tautologia a Tianammen vai um pequeno lapsus linguae...
Tea anyone?