
1. Saramago é o melhor escritor. Conseguiu aquilo que outros grandes vultos da literatura portuguesa (Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner, etc) nunca conseguiram: ganhar o Prémio Nobel da Literatura. É sem dúvida o maior escritor vivo de expressão portuguesa... Apesar de nunca ter escrito em português! Salvo, naturalmente, a possibilidade de ter sido adoptado um novo acordo ortográfico secreto que, pura e simplesmente, elimina da nossa língua essas coisas incómodas que dão pelo nome de vírgulas, pontos finais e outros sinais quejandos...
2. Saramago é o melhor vendedor: não só conseguiu enganar o juri do Nobel como, de repente, os seus livros vendem-se como pãezinhos quentes (e a realidade é que as capas nem são muito bonitas...). Saramago está na moda. Saramago é fashion. Ó filha, já leste o Memorial? Não. Comprei agora o Evangelho... Mas a História do Cerco é uma verdadeira obra-prima da literatura pós-realista contemporânea! (repare-se como utilizei uma das técnicas de Saramago: os diálogos destes pseudo-intelectuais foram inseridos no próprio parágrafo que os antecede, de forma a não existirem travessões). É lindo o homicídio de uma língua, não é?
3. Saramago é o melhor fundamentalista muçulmano: em 2003, numa entrevista ao jornal O Globo, afirmou que "os Judeus não merecem a simpatia pelo sofrimento por que passaram durante o Holocausto... Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós." A sensibilidade de um hipopótamo numa loja de cristais. Comentário só superado pelos discursos das cassetes-pirata do Bin Laden ou do Nasrallah...
4. Saramago é o maior iberista: acabe-se com os Estados-nação. Viva a Europa das regiões! Segundo Saramago (DN de 15 de Julho), "já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla la Mancha e tínhamos Portugal. Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria. Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar. O Ceilão não se chama agora Sri Lanka, muitos países da Ásia mudaram de nome e a União Soviética não passou a Federação Russa?"
O Sri Lanka mudou de nome precisamente devido a questões de índole cultural: não se revia no nome que lhe havia sido imposto pelas potências coloniais, assim como o português não se revê inteiramente na cultura espanhola. Já a União Soviética, sei que Saramago conseguirá explicar melhor que eu, mas se não há vários Estados, não há União. E se não está constitucionalmente consagrado o Soviete Supremo, decerto que a União (que não existe) nunca poderia ser "soviética"... A não ser para o personagem do Ensaio sobre a Cegueira! Ou para Saramago...
O Sri Lanka mudou de nome precisamente devido a questões de índole cultural: não se revia no nome que lhe havia sido imposto pelas potências coloniais, assim como o português não se revê inteiramente na cultura espanhola. Já a União Soviética, sei que Saramago conseguirá explicar melhor que eu, mas se não há vários Estados, não há União. E se não está constitucionalmente consagrado o Soviete Supremo, decerto que a União (que não existe) nunca poderia ser "soviética"... A não ser para o personagem do Ensaio sobre a Cegueira! Ou para Saramago...
5. Saramago é o cidadão mais humilde: confrontado com o seguinte comentário em jeito de pergunta do jornalista do DN, reparem na humildade da sua resposta, de fazer inveja às Carmelitas de Pés Descalços ou aos membros de qualquer outra ordem mendicante.
- Mas não pode negar que o olham como um deus...
- Não diria tanto...
O que nos vale, é que Saramago não acredita em Deus...
O que nos vale, é que Saramago não acredita em Deus...
És o maior Saramago.