Thursday, September 13, 2007

Caso Dalai Lama: não acordem o dragão adormecido

Muito se tem discutido sobre a visita de Dalai Lama a Portugal. A posição daqueles que consideram ser um ultraje o facto do "campeão dos direitos humanos", Prémio Nobel da Paz e líder de um povo oprimido não ter sido recebido pelas altas instâncias do Governo Português carece do pragmatismo típico da realpolitik, no qual se funda a Política Externa de qualquer Estado. Existem inúmeras razões para não acordar o dragão adormecido:

  • Portugal é um dos Estados Europeus com relações mais estreitas com a China, mercê de mais de 500 anos de história em comum;

  • Portugal mantém interesses estratégicos económicos importantes na China continental (a nível da construção civil) e naturalmente na Região Administrativa Especial de Macau;

  • A China tem entrado em força nos mercados Angolano e Moçambicano (importantes para nós), sendo actualmente o primeiro exportador de bens para aqueles Estados;

  • Portugal e China lançaram-se, em conjunto, no ambicioso projecto de criação da plataforma portuária do Poceirão (Palmela). A Plataforma do Poceirão, cujo memorando de cooperação foi, curiosamente, assinado ontem em Pequim pela Secretária de Estado dos Transportes (reparem no timing), possibilitará ao Porto de Sines ombrear com Roterdão e fazer de Portugal a mais importante base comercial da China fora da Ásia, servindo de plataforma giratória para a exportação de produtos chineses para as Américas, África e Europa Central.

Para que tenhamos uma ideia do empreendimento em questão, diga-se apenas que a plataforma do Poceirão é um investimento de 500 milhões de euros (32% do PIB industrial português) que vai gerar 12 mil postos de trabalho (!). Pretende-se que até 2009 o movimento de navios de carga chinesa nos portugueses aumente qualquer coisa como 600%!

Com razões tão ponderosas como estas, ao insistir na questiúncula de quem recebe quem, corremos o risco de parecer ser mais papistas... desculpem! Mais budistas que o Dalai Lama.