Tuesday, February 27, 2007

Saúde...de ferro!

Infelizmente, não pude assistir com a atenção que se exigia ao "debate" no conhecido programa televisivo "Prós e Contras" na RTP1, cujo tema versava sobre a problemática (agora mais acesa) do encerramento de vários serviços de urgências um pouco por todo o país.

Dado que não tomei conhecimento de todos os argumentos mobilizados nem assisti à maior parte da discussão, seria injusto agora criticar qualquer um dos intervenientes no "debate" ou os respectivos pontos de vista.

Pude, no entanto, constatar um facto que me causou a maior perplexidade, mas que tenho vindo a seguir com atenção faz algum tempo e para o qual considero que devo chamar a atenção.

Num programa tão consagrado hoje em dia na sociedade portuguesa como é o "Prós e Contras", cujo mérito e interesse assume hoje bastante relevo, não pude deixar de ficar horrorizado com o facto de se ter dado ao Ministro da Saúde 1 minuto de "tempo de antena" no quase-final do programa para se dirigir às populações afectadas, para supostamente as "tranquilizar" acerca da questão em apreço.

Não está em causa o tempo ou até mesmo a intenção pedagógica desta concessão que foi feita ao Ministro (que se presume de boa fé), mas sim o princípio por detrás da acção.
Num programa de debate, onde os intervenientes devem convencer pelo mérito dos seus argumentos, bem como pela clareza da exposição, e tendo em conta que se trata, in casu, de uma questão particularmente sensível para as populações, após um "debate" (se bem que visionei o Ministro da Saúde sentado com a ilustre jornalista-apresentadora a discutir sozinho a questão, pelo menos durante algum tempo) é totalmente descabido que, a final, se conceda a Tribuna ao sr. ministro para "acalmar" as populações enraivecidas.

Mas estamos ou não num espaço de debate e discussão aberta e, sobretudo, despolitizada?

Não é de hoje nem de agora que transparecem para a opinião pública os sinais da "Cooperação Estratégica" existente entre a RTP1 e o Governo.
Numa era em que o impacto dos media é cada vez mais forte, em que estes meios de comunicação podem exercer a sua influência não só na sociedade em geral, mas também em cada individuo, no seu trabalho e no seu lar, a todo o tempo, é de exigir à comunicação social que se paute por uma actuação totalmente isenta e independente, cumprindo a função (quanto a mim, de soberania) que lhe está cometida, maxime, a preservação da liberdade através da descoberta da verdade, qualquer que esta seja e onde quer que ela se encontre.

Confesso que, tendo em conta estarmos dentro de um programa que se quer isento e cujo objecto é apenas contribuir para o esclarecimento dos cidadãos, é de reprovar em absoluto que o membro do governo responsável pela decisão ali em debate tenha tido, a final, o direito a 1 minuto (que foi certamente ultrapassado) para "esclarecer e sossegar" as populações.

Talvez por ser jovem, a minha memória não alcança o passado, nomeadamente o de há mais de 35 anos a esta parte, onde julgo que seria lugar-comum este tipo de intervenções.

É, assim, com a maior preocupação que registo mais um sinal da relação, quanto a mim, ilícita, inconstitucional e imoral entre a televisão que, de todas, mais será a "de todos os portugueses", e o Governo por estes eleitos.

É um défice para o programa, que se julga de prestígio, e é um défice muito preocupante para a democracia e para a liberdade.

Já agora, e a título de curiosidade, gostaria de saber quanto vale, a preços de mercado, um minuto de publicidade no período do programa "Prós e Contras"...