
Ch’a me togli l’amato tesoro
Dimmi quando il mio duol cesserà.
Che se almen con la dolce speranza
Non mi porgi bem tosto ristoro
Sol di morte quest’alma sarà.
Poichè, chi troppo tempo lontano
Sta dall’adorato bene
O che non ama o che morir conviene.
Escrito por Alessandro Marcello (1668-1747), jurista e compositor veneziano que alcançou notoriedade com o seu Concerto para Oboé em ré menor. Até para este seguidor da Arcádia - movimento de retorno à simplicidade pastoril em face dos excessos ornamentais do barroco - a saudade é o que é: um sentimento hiperbólico e destrutivo. Concordo com Marcello. Sempre que oiço este duetto con strumenti até me arrepio. Aconselho a gravação do Andrea Marcon com a Venice Baroque Orchestra. Sylva Pozzer apresenta-se como uma excelente soprano de música antiga: sem vibrato ou ornamentos desnecessários. No fundo, uma voz que encarna o arcadianismo: incorrompida pelas técnicas de bel canto operático, transparente e pura.
Posologia: ouvir estendido no sofá, com o sol de fim de tarde a entrar pelas persianas semi-cerradas e um copo de gin na mão. Um pequeno prazer da vida.