
Alan Curtis, à frente do ensemble Il Complesso Barocco, conduz um conjunto de excelentes cantores líricos numa autêntica odisseia de árias do mais virtuoso que o Barroco tem para oferecer. A encenação, a cargo de Stefano Vizioli, consegue ser uma excelente reconstituição da época, apesar de não evitar uma quasi-falhada tentativa de reinterpretação de uma obra que se quer imortal, tanto pela sua música, como pelos temas abordados (política, honra e vingança). As críticas veladas e as constantes alegorias ao papel negativo da Igreja na colonização do novo Mundo parecem excessivas, especialmente se atendermos ao facto de Vivaldi ter sido, durante toda a sua vida, padre. Não me parece que tais ideias lhe tivessem passado pela cabeça (ou pela do libretista).
Victor Priante (Motezuma), baixo à moda antiga, brilhou no excelente dov'è la figlia. Também Maite Beaumont (Fernando), marcou um dos pontos altos da noite, na aria La Aquilla generosa.
O momento marcante, foi reservado, contudo, para Gemma Bertignolli (Asprano). Absolutamente fantástica na sua interpretação de dal timor, dallo spavento.
Mari Ellen Nesi (Mitrene) e Laura Cherici (Teutile) falharam algumas coloraturas, mas o resultado final foi positivo. Perdoam-se os pequenos erros em virtude das exigências vocais da obra. É preciso pulmões de Ian Thorpe para cantar algumas das coisas que Vivaldi compôs.
Quanto ao resto, faço minhas as palavras de Asprano: tormentato, disperato, mi preparo a lacrimar...