Meu caro MP,
Quando me referi à democratização estava a congratular-me com o facto das políticas mais extremistas estarem a ser penalizadas nas urnas. Todos sabemos que os franceses sempre foram etiquetados de chauvinistas (e em alguns casos de xenófobos!) e esta tendência de suavizar as ideologias só demonstra a maturação das consciências.
Para não falar na vitória que é para a democracia o facto de haver uma percentagem de participação no acto eleitoral tão avassaladora!
Não esquecer que em Portugal o Bloco de Esquerda está claramente na moda (principalmente nas gerações mais novas) e que em contraponto estão a começar a surgir de uma forma algo assustadora alguns movimentos estudantis de extrema direita (como foi demonstrado nas últimas eleições para a Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da UL).
Obviamente que as ideologias sociais são cíclicas, mas parece que não é só na economia que nos vamos atrasando. A restante Europa já passou por esta fase (nomeadamente na Áustria e na Holanda), mas penso que a estamos a viver com alguns anos de atraso!
Voltando à política francesa...
Aquilo que já não se via há muito é uma eleição presidencial com uma 2ª volta tão bipolarizada partidariamente.
Não nego que já tenham existido várias coligações governamentais (e mesmo co-habitações políticas). Mas estas não têm funcionado muito bem e quem ganhar estas eleições presidenciais pode estar certo de vencer as próximas legislativas.
E aqui entra Bayrou que vai querer manter os seus deputados e isso passa por uma coligação com a UMP de Sarkozy.
Tendo em conta que Ségolène não tem votos suficientes da esquerda para vencer as eleições tem de moderar o discurso para tentar ganhar algum terreno ao centro mas, tendo em conta que Bayrou provavelmente vai apoiar Sarkozy, será muito difícil a vitória dos socialistas.
Para mim não deixou de haver democratização (mesmo com o óbvio esbatimento político!) uma vez que deu origem a uma participação mais activa da população na escolha de quem os governa.