
Não creio que a França esteja num processo de democratização. A participação da sociedade francesa na governação política anda por lá desde 1789 (seja com guilhotinas, pistolas ou cacetetes). Aliás, como deve ser do seu conhecimento, a 5ª República foi instaurada por De Gaulle em 1958. E desde então, tem havido alternância presidencial entre a direita e a esquerda: gaullistas até 1981 (Pompidou, Giscard D'Estaing) substituídos por socialistas (Miterrand) e regressando à direita, com a eleição de Chirac.
Também a nível ministerial, desde 1974 que a França tem sido governada, em alternância, por coligações de esquerda e de direita: Chirac e Barre (direita); Mauroy e Fabius (esquerda); novamente Chirac; Rocard, Cresson e Bérégovoy (esquerda); Balladur e Juppé (direita); Jospin (esquerda), Raffarin e Villepin (direita).
Ora a meu ver, o que está em causa não é um processo de democratização, mas sim de esbatimento das diferenças entre a esquerda e a direita francesas, traduzido num movimento centrípeto, à imagem do que tem vindo a acontecer noutros países do Mundo, entre os quais se destaca o exemplo paradigmático da Grã-Bretanha de Tony Blair.
Tanto para Ségolène como para Sarkozy é essencial seduzir o eleitorado de Bayrou (candidato verdadeiramente centrista), já que os votos de Le Pen cairão para a direita. Ambos os candidatos terão de moderar os respectivos discursos: Ségo no sentido de uma maior abertura à reforma do sistema de protecção social e laboral; Sarko menos agressivo nos seus impetos reformistas e mais discreto no piscar de olhos à Frente Nacional de Le Pen.
Qualquer que venha a ser o resultado, parece-me que finalmente a França se rende às evidências: ideologias rígidas e estáticas, quando confrontadas com a dura realidade, tendem a oferecer respostas pouco consistentes.
Ao fim de mais de 300 anos, a política gaulesa parece vir a ganhar sentido prático. Ou pelo menos, tudo para isso aponta.