Tuesday, May 8, 2007

Frühlingszeit in Vienna


A Primavera em Viena não tem piada nenhuma. De repente parece que aterrámos numa cidadezinha italiana de província. Esplanadas no Graben, calor assustador e o povão, de óculos escuros e manga curta, a refastelar-se com gelados pelas suas ruas e parques. Viena não é isto. As minhas ternas lembranças foram, num só dia, destruídas. A magia de Viena radica no frio. Nos infindáveis dias de nevão, com o cheirinho a vinho quente e sachertorte no ar. Com a saudável confusão dos mercados de Natal e os sons dos vionistas de rua a sobreporem-se aos gritos dos putos anafados, trajados de luvas e barrete de neve de cor e padrão condicente.

É verdade que a luz enaltece-lhe a grandiosidade. Mas em contrapartida tira-lhe a poesia; esvazia-a do seu conteúdo metafísico. Quero a Viena cinzenta. Quero a Viena do Requiem de Mozart. Quero a Viena cercada pelos Turcos Otomanos. A Viena Imperial, a Viena da Secéssion; a Viena das tuberculoses românticas e das noitadas de Lieder. Da neve até aos joelhos e das missas cantadas na Jesuitenkirche às nove horas de uma manhã de Domingo escura e fria. Quero a Viena teutónica. A Viena gelada. A verdadeira Viena!

Ver austríacos descontraídos, de manga curta, a comer sorvetes na rua e a beber vinho tinto gelado em esplanadas não é normal. Algo bate mal. É o mesmo que ver esquimós no Sahara ou uma tribo Masai na Gronelândia. Esta Primavera vienense é demasiado perfeita. É artificial. É uma Primavera meticulosamente preparada, urdida, delineada para ficar bonita. É uma Primavera traçada a régua e esquadro. Uma Primavra de fachada. Um número de teatro. Uma falsificação!

Nem o expressionismo sensual de Schiele, nem a expressão sexual de Freud eram quentes ou descontraídos. Eram cinzentos, frios e calculistas. Assim como a verdadeira Viena, de cinzento trajada.