Sunday, August 12, 2007

Parabéns Dr. Adolfo Rocha!


Médico que sempre foi a par de poeta, diarista e dramaturgo, Miguel Torga sempre será um dos maiores vultos da literatura portuguesa.

Para pseudónimo escolheu "Miguel", invocando Cervantes e Unamuno (que também demonstraram a sua constante preocupação com a alma humana) e "Torga" pelas urzes transmontanas que se enraizam nas rochas.

Nasceu em São Martinho de Anta no ano de 1907 mas pereceu na cidade de Coimbra, onde exerceu a sua profissão de Otorrinolaringologista, a 17 de Janeiro de 1995.

Foi na cidade banhada pelo Mondego que, na minha adolescência, tive a oportunidade de um encontro fugaz com esta personalidade. Nunca esquecerei esse momento!

Infelizmente este expoente da nossa literatura, reconhecido a nível internacional, nunca foi galardoado pela Academia Nobel, o que demonstra que quem não tem padrinhos... como os Reis de Espanha...

Nunca se comprometeu politicamente e sempre defendeu os valores da liberdade e da solidariedade dizendo: «Ser livre é um imperativo que não passa pela definição de nenhum estatuto. Não é um dote, é um Dom».

Termino este testemunho com um dos meus poemas favoritos de Miguel Torga, intitulado "Orfeu Rebelde":


Orfeu rebelde, canto como sou:

Canto como um possesso

Que na casca do tempo, a canivete,

Gravasse a fúria de cada momento;

Canto, a ver se o meu canto compromete

A eternidade no meu sofrimento.


Outros, felizes, sejam rouxinóis...

Eu ergo a voz assim, num desafio:

Que o céu e a terra, pedras conjugadas

Do moinho cruel que me tritura,

Saibam que ha' gritos como há nortadas,

Violências famintas de ternura.


Bicho instintivo que adivinha a morte

No corpo dum poeta que a recusa,

Canto como quem usa

Os versos em legitima defesa.

Canto, sem perguntar à Musa

Se o canto é de terror ou de beleza.