Wednesday, February 14, 2007

O Príncipe das Trevas

Vejam este belo excerto de prosa de Vital Moreira, publicado n'O Público de ontem, a fazer corar os mais radicais dos jacobinos ou ou mais convicto dos liberais de 1820. O anti-clericalismo do cartista José António de Aguiar (o famoso Mata-Frades ) parece um hino ao bom-senso quando comparado com as atoardas do Prof. de Coimbra:
«(o referendo ao aborto) tratava-se , de um "teste civilizacional", entre a pré-modernidade ou a modernidade, entre a confusão ou a separação entre a ordem moral e a ordem penal, entre o império religioso ou o Estado laico. Como explicou por sua vez, Eduardo Lourenço, estava em causa mais um confronto entre o Portugal rural, católico e conservador e o Portugal urbano, laico e liberal(...)»
«(...) Se quisermos singularizar o grande perdedor, o galardão não pode deixar de ser atribuído à Igreja Católica. Não somente pelo protagonismo de muitos bispos e padres na luta pela manutenção da criminalização do aborto, mas também pelo domínio de personalidades alinhadas com a Igreja Católica nos partidos e movimentos do "não" e, sobretudo, pela omnipresença das suas numerosas organizações subsidiárias na campanha (Associação dos Médicos Católicos, Acção Católica, Opus Dei, etc.).
Também nisso o resultado do referendo constitui um feito histórico: desde a implantação da República que a Igreja Católica não sofria uma derrota política tão profunda, e desta vez directamente às mãos do voto popular. Decididamente, ela deixou de comandar a consciência moral dos portugueses e as opções políticas do Estado. A separação entre o Estado e a religião deu um decisivo passo em frente. O Código de Direito Canónico deixou de ser lei constitucional entre nós.»
Volta Marx! Tás perdoado!