
O concurso "Os grandes Portugueses", no ar na RTP1, tem dado que falar. Não porque não haja portugueses dignos de figurar em tal lista, mas pelo facto de a sua ordenação ser um pouco o espelho da sociedade actual: descontente e em busca de referências: de líderes. Senão, de que outra forma explicaríamos o facto de se estar a assistir a um verdadeiro duelo de titãs entre dois ditadores? There can be only one! Será o circunspecto Salazar ou o estalinista Cunhal?
Custa-me ver figuras como Eça de Queirós (22º), Egas Moniz (23º), Pedro Nunes (32º), Fernão Magalhães (35º), ou o Padre António Vieira (33º) na sombra de Pinto da Costa (17º). É impressionante o quanto umas noitadas de copos com uns árbitros num qualquer lupanar portuense como o Pérola Negra ou o "Calor da Noite" podem fazer uma pessoa ascender a um lugar cimeiro na galeria dos grandes vultos nacionais... Não só o povo português tem memória curta, como também parece anuir com a prevalência da desonestidade e o egoísmo sobre o comportamento recto e altruísta. E o que fazem José Sócrates, Otelo Saraiva de Carvalho, o Ricardo Araújo Pereira ou um actor de 16 anos dos "Morangos com Açúcar chamado Hélio Pestana à frente de Gil Vicente, Vieira da Silva, Fernão Mendes Pinto, Damião de Gois, Pedro Hispano ou Almeida Garret?
Para se ser considerado grande pelo povinho luso é aconselhável fazer uns atentados ou uns anúncios à PT Comunicações. Bater com os costados numa Nau no fim do Mundo ou passar a vida inteira a escrever peças de teatro a bem da língua portuguesa é muito old fashioned. Claro está! Óbvio! O melhor português deveria aparecer frequentemente na TV. O Grande Português deveria ser o Emplastro!!!
Mas não somos os únicos alarves. Por essa Europa fora, outros fizeram tão mal ou pior. O terceiro grande "bretão" é a Princesa Diana de Gales (coitados do Shakespeare e do Newton, relegados respectivamente para 5º e 6º lugares... E dos ingleses, que não souberam reconhecer o génio superior daqueles dois homens...).
Mas o mais engraçado é mesmo o caso alemão e francês. Ambos os Estados têm passados riquíssimos, pejados de vultos que ficaram para sempre nos anais da História. Ainda assim, os alemães não tiveram problemas em roubar o Copérnico (108º) aos seus vizinhos polacos, nem os franceses o Jean Jacques Rousseau aos chéres amies suiços. Vale tudo... Era preciso nacionalizar pessoas? Quanto mais têm, mais querem...
No caso francês, é ainda de registar a excelente classificação desse grande democrata que dá pelo nome de Napoleão Bonaparte (16º) e do revolucionário, famoso pelo seu reinado de terror, Robespierre (71º). O facto de estes se terem classificado à frente de artistas como Renoir Monet ou Rimbaud leva-me a pensar que os franceses preferem um bom espectáculo de sarda ou "guilhotinada" aos promenades de Domingo no Museu do Louvre. O Maio de 68 está aí para o provar...
Ah! E alguém explique a essas mentes esclarecidas que a Padeira de Aljubarrota (51º) é uma figura histórica cuja existência ainda hoje é discutida nos meios académicos. Em todo o caso, parece mais real que o Rei Artur, n.º 51º da lista britânica (atrás do Boy George, claro está!).